Sunday, December 02, 2007

Uma mesa de pequeno-almoço vazia de companhia, num país estrangeiro

Uma mesa de pequeno-almoço vazia de companhia, num país estrangeiro…Esta é mais uma manhã, na qual tento inventar pensamentos, planos, voos impossíveis, algo que me faça sentir mais útil, alegre, concretizado… sinceramente, nem sei definir o que quero sentir. Aceito qualquer sugestão, até mesmo de roleta. Ao meu lado esquerdo, uma parede verde, um relógio barulhento que me ancora na realidade temporal; em frente uma parede amarela com quadros de pouco gosto. Foco a minha atenção num pequeno estrago no estuque da parede, penso no vazio, ou talvez o vazio seja a única coisa que me ocupa.
As vezes gostava de ser mais lunático do que sou e mandar tudo á fava. Penso que não tive tempo de racionalizar o que quero. Aquele “gap year” que os estudantes fazem antes ou depois da universidade em certos países, talvez fosse a resposta certa na altura adequada para mastigar um plano de vida. Os planos a curto prazo e as modas são fugazes, o que parece ser excitante agora daqui a alguns anos (talvez meses!) torna-se fastidioso.
Acho que é indispensável pensar e pensar e regurgitar tudo novamente. Cheguei a essa conclusão quando saí de casa e deixei cair as minhas malas em solos estrangeiros. O mundo tornou-se pequeno, mas a quantidade de sonhos e possibilidades transformou-se num colosso que cresce e me consome.
Não estou interessado em tornar-me num revolucionário de ideais baratos, que veste uma camisola com a imagem do Che Guevara sem saber o que aquele olhar significa (já nem digo a estrela) e diz que o dinheiro ou qualquer bem material é um excesso neste mundo de arrogância capitalista. Quero algo…algo que me abra os olhos e me faça encarar os dias com vontade e sem vazios que ecoam com cada pensamento que levanta voo.
Interessante, a perspectiva de felicidade é uma escala de uma metamorfose prodigiosa. O que pensávamos que era o nosso zénite de alegria torna-se um valor de inferior simbolismo e uma nova “coisa” cai no topo da nossa escala. Quanto mais vejo, sinto e penso mais quero saltar. O problema é que não sei para onde e um salto às cegas é sempre algo que não confiamos. Talvez naqueles momentos em que acordo a transpirar com pesadelos que não me deixam em paz.
Às vezes apetece-me chorar…mas não consigo. Será que me tornei insensível? Eu não quero perder a única coisa que me torna imune ao apatismo.
Uma mesa de pequeno-almoço vazia de companhia, num país estrangeiro…Esta é mais uma manhã, na qual tento inventar pensamentos, planos, voos impossíveis, algo que me faça sentir mais útil, alegre, concretizado… sinceramente, nem sei definir o que sinto…o que quero sentir.