Tuesday, May 31, 2005

Ignem e Caelum

“A Geologia é o estudo austero do esqueleto da paisagem. (…)
As excursões do Geólogo são as únicas que merecem este nome: Excursus, Caminhada além do tempo e do espaço actual. (…)
Ao ver a montanha, o geólogo pensa no mar do qual ela saiu; ao ver o mar, pensa que nele estão depositadas as montanhas do futuro. (…)
A profissão do geólogo só pode ser exercida apaixonadamente. O geólogo deve ter da Terra, da Geografia Física Planetária, um conhecimento aprofundado que exige uma longa e afectuosa familiaridade. Jamais será geólogo quem não tiver perscrutado longamente, nos mapas, os contornos de todos os continentes, as saliências e falhas de todas as costas, as sinuosidades de todos os rios, impostas pelo relevo; o que não haja tentado explicar a forma de cada lago e sobretudo o traçado das cadeias de montanhas. (…)
O verdadeiro geólogo não conhece os fósseis, como também os ama. Ama-os com um amor pudico e incompreendido, gerado paulatinamente pela presença na mente, até às raias da obsessão, do modesto e indispensável testemunho daquilo que era, aqui e outrora, o conhecimento biológico deste ser que, para nós, não está realmente morto. (…)
Com a mochila às costas, o martelo na mão, caminha, caminha toda a vida, sobre as cristas, na concavidade dos vales, com o olhar fixo na rocha, onde espera aparecer o indício que procura. (…)”


Charles Combaluzier

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