Friday, November 04, 2005

Alguém...


Flores, cores, casas no fundo do arco-íris, caramelos e brinquedos que fazem companhia nos sonhos. Um mundo dos Deuses, mesmo desconhecendo o significado da palavra. Até no Inverno o sol brilha quando se quer e as poças de água são mares habitados por monstros particulares que se criam diariamente, com os novos influxos de experiências. O sorriso encontra-se constantemente colado na face.

A chuva cai e o sol vira costas, sós na infinita rua o mundo deixa-nos com tudo nas mãos. Mudança de hábitos e conversas frias de desdenho…nunca ninguém falou deste mundo. As cores habituais que inundavam as manhãs parecem retalhos de uma vida anterior guardada num sonho de cristal prestes a cair.
A vida deixa de ser feita através da troca de caramelos e sorrisos, o veneno dourado toma lugar em todas as conversas, envenena os sonhos e enraíza as pernas da ilusão.

Uma família e a felicidade compra-se com suor que é roubado à alma. Pouco tempo no novo lar, muito labor e sol só na televisão. A lua é a nova luz diária. A meia idade traz dificuldade nos sorrisos e abraços curtos e presos. Mau sexo e os problemas fundem no interior porque a barreira da comunicação calcificou com a indiferença.

A palavra “amigo” ganha outro significado e não a damos sem ter todas as cópias do contrato alheio. O engano faz-se dentro de casa debaixo de sonhos outrora moldados. Os filhos comportam-se como transeuntes no meio de uma rua movimentada, o tempo roubou a educação e a cumplicidade que se deveria ter fomentado.

Um novo dia e a casa encontra-se vazia, a despedida foi completa, sozinho sentado a olhar para o vazio da noite e a contar as rugas no reflexo do vidro das molduras de outras vidas. A bebida é o novo cúmplice e os objectos ganham vida. Pensa-se no que os filhos estarão a fazer e se tomam melhores decisões. Estas recordações fazem as já esquecidas lágrimas rolar sobre as caras sorridentes imortalizadas em papel celulóide.

No fim do caminho e sós, passam várias eternidades sem se articular um som consciente, vive-se numa casa de choro sem ninguém para limpar as lágrimas e sem abraços para aquecer o coração.

Tarde demais pedimos: “Por alguém! Quero a minha família e a vida de volta!

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